sábado, 4 de setembro de 2010


‘O tempo não cura tudo.
Alias, o tempo não cura nada.
O tempo apenas tira o tempo incurável do tempo das atenções.’

Pra quem não tem nada pra escrever em plena manhã de sábado,
é melhor roubar uma fala de alguem, e não colocar como se fosse sua.

Na verdade mesmo, era melhor passear.
Essa minha falta de sociabilidade anda me matando.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Um passeio de balão


Seus olhos gritavam por socorro, e deles faíscas ofuscavam minha visão bastante limitada daquela realidade. Naquele exato momento minha cultura, meus conceitos, minha ideologia se tornaram tão baixos quanto minha
vergonha.

Fui enganada.

Como um choque térmico em uma noite de inverno, senti aquele arrepio que subia desde as pontas dos meus pés ao alto da minha cabeça, deviam ser aquelas mãos imundas e
calejadas que ardiam dentro de mim. Meus lindos sapatos envernizados eram como
espelho que refletiam aqueles pés descalços humilhados e sujos.

Enquanto homens procuravam incansavelmente provar que há vida lá fora, não conseguiram entendem que a prova que tanto procuram sempre existiu.

Sempre houveram dois mundos, duas civilizações.

Existe uma guerra camuflada entre os habitantes do Mundo Bolha, e os moradores da Terra Invisível. Os habitantes que a ciência
tanto procura caminham entre nós, podem não estar lá no alto, ou dentro de uma
esfera gigante vermelha, podem não ser marcianos. Mas não pertencem ao Mundo da
Bolha, ou pelo menos, são tão invisíveis
quanto seu Mundo Invisível

Duas civilizações concretas habitam no mesmo campo.

Observei seu medo, seu frio. Ele me olhava desconfiado como se eu pudesse agredir uma pequena criança. Ao ponto que desci da bolha e viajei em seu Mundo Invisível,
notei que seu medo era compreensível.

Sua terra era outra realidade, um lugar que os cientistas não buscam explorar. Sua água não era como a água do nosso planeta, ela tinha uma cor como de areia, e poucos
tinham acesso. Os habitantes vestiam outro modelo de roupa, não consegui
entender se seguiam alguma grife ou moda, porque a grande maioria vestia poucas
peças, estivesse frio ou quente. Suas casas tinham estruturas diferentes, não
eram como as casas da Terra da Bolha, essas eram um conjunto de qualquer
material que pudesse substituir nosso gesso usado em escadas. O que me
chamou a atenção era a alimentação dos habitantes da Terra Invisível, não era
previsto, o que eles tinham era uma grande mistura de qualquer coisa, isso
quando tinham. Freqüentei suas escolas, e como todo seu mundo, ela era bastante
diferente das do Mundo Bolha, a ‘educação’ era bastante estranha,
desinteressada. Muitos estavam doentes, e o local que freqüentavam era bastante
cheio, as pessoas que atendiam eram moradores do mundo Bolha. Alguns habitantes
não tinham casa, nem sapatos, nem comida, nem remédio. Muitos se maravilhavam
quando contava sobre um pouco do Mundo Bolha, mas nesse momento me sentia
envergonhada, e o imundo não era quem estava descalço e sujo, e sim eu.

Ele procurou não demonstrar, mas tudo o que aquele garoto queria era minha volta no seu mundo. Segurou firme minhas mãos e constrangido me deu um abraço. Sussurrou
sem dizer uma palavra, que ele não queria ser invisível, que não agüentava mais
ser sufocado pelo sistema do Mundo Bolha. Suas lágrimas escorriam por sua face
suja, eram como rios se encontrando, uma nascente de fome, outra de frio, um
rio de saudade, de dor.

Segui meu caminho de volta ao Mundo Bolha, envergonhada...

E humilhada por humilhados.

Tempos de Alice, meio Alice


...Enquanto buscava pelo coelho branco, o vento soprava, as folhas caiam, e a chuva inundava. Tudo era meio sem cor, silencioso, neutro.
Mas alguém me encontrou de uma forma bastante peculiar.
Às vezes me vejo meio Alice, buscando pelo coelho branco que parece fugir de mim. Já fui muito decidida, já fui fraca, já fui torre, muro.
Meu mundo se resumia em fábulas, mas meus contos geralmente não terminavam com o ‘Felizes Para Sempre’. Aonde encontro o príncipe? Alguém pode me contar sobre o canto dos pássaros? O sapo virou Rei, o cisne, princesa?
Então observei que alguém me olhava, um olhar profundo e de amor.
_ Não! Não busque o coelho, as cartas são enganosas.

Ah, e como aquilo ardia dentro de mim.
Como não existir algo que sempre busquei? Quando a frase mais marcante penetrou meu coração... meus segundos pararam, e a respiração era tão silenciosa quanto ao amanhecer que apenas iluminava, o coração pulsava, sim... Eu podia sentir. Era algo forte, impactante que gritava e soluçava.
_ Você não nasceu pra ser Alice!
De perdida, encontrei e me apaixonei por aquele olhar.
Aquele único amor me dizia que não precisa mais ser quem eu sempre temia ser, e que de fato... Sempre fui, Alice.